12 de mar. de 2009

Da força...

Preciso dizer isso. É como um desabafo, não, na verdade uma espécie de auto-afirmação com uma pitada de orgulho. Não, não... confesso, é um sensação que tem em sua minoria orgulho, e em sua maioria desconforto. Isso! É um desabafo orgulhoso de uma sensação de desconforto.
Essa história de ser mais madura do que a minha idade, de ser independente em excesso, de ter muita energia e força pra dar conta de muitas responsabilidades pra minha idade... essa coisa toda ouço desde que me entendo como ser humano semi-autônomo. Mas confesso que é meio incômodo. Querendo ou não, sem um pingo de superioridade, afirmo com muita propriedade que a maioria das pessoas não são assim. Logo, quando sentem que você tem um pouco mais de iniciativa e disposição se acomodam além da conta. Eu queria entender que bosta de comodismo é esse que traga algumas pessoas. Principalmente quando se trabalha com arte... Queria sinceramente saber como essas pessoas não enxergam, ou ao menos não pressentem que poderiam ir muito mais longe se ousassem colocar os pés fora do seu limite de entendimento, o que elas na sua frágil ingenuidade denominam: segurança. Ousar faz parte, é benéfico e alimenta. É muito fácil não temer e arriscar dentro das fronteiras do óbvio. Sair disso e se expor pra suas próprias fraquezas é outra conversa...
O combinado é: vamos trabalhar. Com quê? Teatro. Ok, então vamos? Vamos. E ficam sentados esperando que o grande exemplo de força, personificado em Daniele Zamorano se manifeste! Ah pelo amor de Deus! Não sou tão grande coisa assim pra ter essa aclamação e gerar esse espanto todo. Acho que a diferença entre quem faz acontecer e quem fica esperando que façam acontecer é a tolerância ao "pode ser", "deixa rolar", "maybe...", "quem sabe". É como tolerância à dor, uns tem mais outros menos. Minha tolerância pra esperar que façam por mim é menos 57. E sinceramente acho que, a tolerância a esse tipo de coisa das pessoas de forma geral poderia ser um pouco menor. Ousar não dói. Às vezes dói. Mas é uma dor muito mais útil e interessante do que um suspiro de repouso constante. Eu ao menos prefiro. O dia que mudar de idéia, vou pra minha casinha no campo.
Tô querendo me aposentar. Se não fosse essa fome louca de aplausos, de olhos de platéia, de catarse, de divisão do que é humano, de pode descansar da minha insignificância como um só ser, já o tinha feito.

Alguns trechos da leitura atual (O Ovo Apunhalado - Caio Fernando Abreu):

"...mas não sou forte, apenas construí de minhas fraquezas essa coisa que talvez chamassem força."

"Porque você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver, o tempo que quiser: até o fim de sua maldita vida, você pode recusar, sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se de seu lugarzinho confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo."

"O que eles deixaram foram estes três postulados: importante é a luz, mesmo quando consome; a cinza é mais digna que a matéria intacta e a salvação pertence apenas àqueles que aceitarem a loucura escorrendo em suas veias. "