14 de jun. de 2009

Das dores das amigas

Essa eterna sacanagem do sexo masculino para com minhas amigas do sexo feminino é algo que me irrita profundamente. E por favor, não venham me dizer que é feminismo, sou esclarecida demais pra isso. A questão é que, em se tratando de fuder com a vida alheia com atitudes loucas, os homens vêm ganhado em disparada. Pra ser uma pessoa ponderada poderia até pesar, tentar entender os motivos que levam esses seres estranhos com peles penduradas no meio das pernas a fazerem umas coisas sem lógica nenhuma e passando completamente por cima dos sentimentos das minhas amigas. Que de santas podem ter apenas os cabelos compridos, mas que realmente se entregam a essas criaturas estranhas. Enfim, partidária ou não, não é a toa que seguinte frase é dita a séculos antes de eu nascer: homens não prestam. Que as fêmeas recolham suas cinzas, cicatrizem suas feridas, sacudam as mágoas e medos, coloquem seu melhor decote, lustrem seus lábios, reinaugurem suas vaginas, enalteçam seus trabalhos e metas, e aprendam a recomeçar, pra amar estes trastes que foram projetados exclusivamente pra nos magoar, mas que paradoxalmente dão sentido à nossas vidas. Para esquecer um traste, só arrumando um menos traste.

ela quer viver sozinha
sem a sua companhia
e você ainda quer essa mulher

ela goza com o sabonete
não precisa de você
ela goza com a mão
não precisa do seu pau

ela quer viver sozinha
sem a sua companhia
e você ainda quer essa mulher

que não sente a sua falta
e quando você chega em casa
ela não sente a sua presença
ela tem um travesseiro mais macio
do que o seu braço
e um acolchoado muito mais quente
que o seu abraço

ela quer viver sozinha
sem a sua companhia
e você ainda quer essa mulher
(Arnaldo Antunes)

4 de jun. de 2009

Do cachecol vermelho

Ontem passei o dia todo querendo escrever esse post. Ontem era poderosa, muito poderosa. Uma segunda pele preta que não protegeu em nada do frio, botas com fivela, vestido preto, cachecol vermelho e óculos escuros. Me sentia uma vilã ou espiã saída de uma novela brasileira do sbt, só faltava um carro. Ontem podia tudo. Circulei pelo rio pra cima e pra baixo, de trem, metrô e ônibus. Era poderosa mesmo sem carro. Eu podia tudo, via que tinha força e beleza. O cachecol vermelho me deu o poder. Encabecei uma reunião e um projeto, por mais absurdo que pareça. Li um livro bom em todos os trajetos, me senti uma Amelie Poulain nos metrôs da Europa no trem Central-Bangu. Bon soir, bon soir...

"eu seguro a minha língua como um garanhão, pela rédea, para que ele não se jogue sobre a égua, porque se eu largasse a rédea, se eu afrouxasse ligeiramente a pressão de meus dedos e a tração de meus braços, as minhas palavras a mim mesmo desmontariam e se arremessariam para o horizonte com a violência de um cavalo árabe que fareja o deserto e que nada mais pode frear."
(Bernard-Marie Koltès)