27 de mar. de 2009

De Nietzsche

Amanheci bem, apesar da auto-cobrança pra não perder a desconfiança e malícia, tão duramente conquistadas. Anoiteci "Nietzschiana" (sou louca por ele), com um pitada de ironia introvertida. A idéia de desilusão pra algumas pessoas é tão nata, que a abstração chamada esperança soa como um prolongamento opcional do sofrimento.
Existem coisas que só se pode conceitualizar aos 23: hoje no meio de umas compras, percebi que uma mulher, pelo menos uma kiwi, está efetivamente interessada num homem quando passa a gastar mais com roupas de baixo do que com roupas de cima. Quanto a definição de pessoas Kiwis, ainda é uma tese sendo finalizada em parceria.

"A vida vai ficando cada vez mais dura perto do topo."

"Temos a arte para não morrer da verdade."

"É pelas próprias virtudes que se é mais bem castigado."

"Um homem de génio é insuportável se, além disso, não possuir pelo menos duas outras qualidades: gratidão e asseio."

"É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela."

"Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos."

"Querer a verdade é confessar-se incapaz de a criar."

"A mulher aprende a odiar na medida em que desaprende - de encantar."

"Até Deus tem um inferno: é o seu amor pelos homens."

"Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade."

"Odeio quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia."

(Nietzsche)

26 de mar. de 2009

Das rosas...


Numa metáfora espantada construída de sentimentos saborosos, posso dizer que as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o que muitas vezes os olhos não são capazes de ver. Uma pequena decepção com um amigo do coração ou um ex-amigo do coração. Dia saboroso, regado a rosas e com quem eu queria estar perto.

Mais um ano na estrada percorrida

Vem, como o astro matinal, que a adora
Molhar de puras lágrimas de aurora
A morna rosa escura e apetecida.

E da fragrante tepidez sonora
No recesso, como ávida ferida
Guardar o plasma múltiplo da vida
Que a faz materna e plácida, e agora

Rosa geral de sonho e plenitude
Transforma em novas rosas de beleza
Em novas rosas de carnal virtude

Para que o sonho viva da certeza
Para que o tempo da paixão não mude
Para que se una o verbo à natureza.

Soneto da Rosa - Vinícius de Moraes


23 de mar. de 2009

Das reuniões...


Pode parecer redundante, mas às vezes as reuniões acabam por reunir às pessoas...
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Quando piso em flores Flores de todas as cores
Vermelho sangue,verde-oliva,azul colonial
Me dá vontade de voar sobre o planeta
Sem ter medo da careta
Na cara do temporal
Desembainho a minha espada cintilante
Cravejada de brilhantes
Peixe-espada vou pro mar
O amor me veste com o terno da beleza
E o saloon da natureza
Abre as portas preu dançar

(Boi de Haxixe - Zeca Baleiro)


22 de mar. de 2009

Do futuro...

Ela tinha 6 anos e estava sentada nos degraus da varanda de uma casa verde quando constatou que podia ler através das estrelas o futuro que não existia. Durante muitas noites, inclinava seu pescoço curto, gordinho e branco para se entregar ao dom, que perdeu quando adulta, de apenas apreciar. Inclinava de tal forma, que sem perceber se deitava no piso vermelho fosco gelado. Foi ali que se tornou sentimental. Sua mãe certamente não devia imaginar as consequências, se não a teria impedido. Numa dessas sessões noturnas de contemplação do céu com seus enfeites de lua e estrelas - fascínio este, que carregou até os últimos dias de sua velhice, quando os contemplou pela última vez dos degraus imaginários de sua janela aos 90 anos - a menina, olhou para os seus pezinhos, examinou primeiro um, depois o outro. Contou os dedinhos com as unhas pintadas de vermelho do pé direito, depois contou os dedinhos com as unhas pintadas de vermelho do pé esquerdo, e viu, de um jeito simples, objetivo e indolor, como só as crianças vêem, que tudo nela era repetição. Os pés tinham os mesmo números de dedos que os pés da mãe e do pai e da tia e da avó e do irmão. Mas eram diferentes dos do cachorro. A menina não entendeu o porquê, afinal o cachorro era tão recheado de humanidade pra ela quanto os outros que moravam na casa. Algumas noites depois choveu. Ela não pode sentar nos degraus porquê não haviam nem lua e nem estrelas. E estava molhado. E não podia.
No dia seguinte, a chuva tinha ido passear com sua prima trovoada talvez nos Estados Unidos. Ela sentou, dessa vez no degrau mais embaixo, porque dava pra ver melhor. Inclinou o pescocinho, reparou que algumas estrelas mudaram de lugar. Até hoje lembro bem do espanto dela, quando aos 17 descobriu que o brilho de uma estrela demora até 8 anos para chegar na Terra, e que muitas estrelas que vemos podem nem existir mais. Reparou que algumas estrelas haviam mudado de lugar. E diferentemente de um pensamento de criança, que talvez imaginaria que elas estariam de mudança ou brincando de pique-pega, a menina na sua infinita e sentimental infância, entendeu que, apenas com uma ou outra mudança, todas as noites eram feitas pelo mesmo céu que estava lá, as mesmas estrelas, quase a mesma cor, e a mesma menina, com os mesmo dedos dos pés, e o mesmo assoalho, e os mesmo degraus, e era sempre o mesmo... toda ela repetição... o mesmo céu... que sempre estava lá... e sempre esteve, e sempre estará... e a mesma menina... o mesmo pescoço... com os mesmos olhos e dedos... e sempre o que era... sempre o mesmo que será... e as mesmas estrelas... que sempre estiveram... e sempre estarão. Mudem os olhos da menina, ou a cor dos degraus, o mesmo céu. O mesmo céu. O mesmo céu. Mesmo quando ela virar estrela. O mesmo céu. E o cachoro morrer. O mesmo céu. E o degrau rachar. O mesmo céu. E a vida correr. O mesmo céu. Quando o futuro chegar. O mesmo céu.

15 de mar. de 2009

Das palavras


Tenho andado com um sorriso tão cínico na cara, que quem me olha nem desconfia que ando realmente feliz...


e pouco a pouco as palavras roçavam minha pele
e eu consentia
e começaram a me apertar
até eu quase sufucar
comecei a me cansar
mas elas não me perdoaram
me englobaram
me estreitavam
numa dimensão que eu não conhecia
e sem querer me cortaram
e no lugar de sangue
brotou agonia.
(Dani Zamô)

12 de mar. de 2009

Da força...

Preciso dizer isso. É como um desabafo, não, na verdade uma espécie de auto-afirmação com uma pitada de orgulho. Não, não... confesso, é um sensação que tem em sua minoria orgulho, e em sua maioria desconforto. Isso! É um desabafo orgulhoso de uma sensação de desconforto.
Essa história de ser mais madura do que a minha idade, de ser independente em excesso, de ter muita energia e força pra dar conta de muitas responsabilidades pra minha idade... essa coisa toda ouço desde que me entendo como ser humano semi-autônomo. Mas confesso que é meio incômodo. Querendo ou não, sem um pingo de superioridade, afirmo com muita propriedade que a maioria das pessoas não são assim. Logo, quando sentem que você tem um pouco mais de iniciativa e disposição se acomodam além da conta. Eu queria entender que bosta de comodismo é esse que traga algumas pessoas. Principalmente quando se trabalha com arte... Queria sinceramente saber como essas pessoas não enxergam, ou ao menos não pressentem que poderiam ir muito mais longe se ousassem colocar os pés fora do seu limite de entendimento, o que elas na sua frágil ingenuidade denominam: segurança. Ousar faz parte, é benéfico e alimenta. É muito fácil não temer e arriscar dentro das fronteiras do óbvio. Sair disso e se expor pra suas próprias fraquezas é outra conversa...
O combinado é: vamos trabalhar. Com quê? Teatro. Ok, então vamos? Vamos. E ficam sentados esperando que o grande exemplo de força, personificado em Daniele Zamorano se manifeste! Ah pelo amor de Deus! Não sou tão grande coisa assim pra ter essa aclamação e gerar esse espanto todo. Acho que a diferença entre quem faz acontecer e quem fica esperando que façam acontecer é a tolerância ao "pode ser", "deixa rolar", "maybe...", "quem sabe". É como tolerância à dor, uns tem mais outros menos. Minha tolerância pra esperar que façam por mim é menos 57. E sinceramente acho que, a tolerância a esse tipo de coisa das pessoas de forma geral poderia ser um pouco menor. Ousar não dói. Às vezes dói. Mas é uma dor muito mais útil e interessante do que um suspiro de repouso constante. Eu ao menos prefiro. O dia que mudar de idéia, vou pra minha casinha no campo.
Tô querendo me aposentar. Se não fosse essa fome louca de aplausos, de olhos de platéia, de catarse, de divisão do que é humano, de pode descansar da minha insignificância como um só ser, já o tinha feito.

Alguns trechos da leitura atual (O Ovo Apunhalado - Caio Fernando Abreu):

"...mas não sou forte, apenas construí de minhas fraquezas essa coisa que talvez chamassem força."

"Porque você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver, o tempo que quiser: até o fim de sua maldita vida, você pode recusar, sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se de seu lugarzinho confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo."

"O que eles deixaram foram estes três postulados: importante é a luz, mesmo quando consome; a cinza é mais digna que a matéria intacta e a salvação pertence apenas àqueles que aceitarem a loucura escorrendo em suas veias. "

8 de mar. de 2009

Do absurdo de ser real

"Estragon: - Que tal se a gente se enforcasse?
Vladimir: - É um modo de se masturbar."
(Esperando Godot - Samuel Beckett)




5 de mar. de 2009

Domino...

Formatura de uma querida amiga. Nascimento da minha sobrinha Aurora. Acontecimentos especiais, início de ciclos de, e para pessoas importantes. No fim da noite, entre outros, um susto. Uma confusão que achei que não fosse mais vivenciar. Afinal, fazem anos. Um esboço mau humorado, grosseiro e insensível de interesse fundamentado. O vi de forma romântica... sem nenhum motivo aparente.

Domino (existem tantos segredos dentro das palavras...)

Há em você um silêncio
que me perturba,
que me fala internamente

Há no teu calar
uma ofensa ao
meu coração displicente

De que forma
resguardada você
se move até mim?

De teus olhos sei
tão pouco,
de minha miragem
timidamente vejo
tua voz me invadir.

Quem é você que tão
pausadamente se aproxima?
E como uma ameaça inocente,
o meu pensamento domina.

Há algo que estranhamente
te entrega
e me anula
e transforma em espera
o que antes não era

Linha estreita
que me tange e me capta
meu coração à espreita
do teu mistério,
que pros mares antigos de ilusão
me arrasta

E do que não domino
me afasto
como o idéia de paixão
que dentro de mim
teu silêncio resgata.
(Dani Zamorano)

3 de mar. de 2009

Das causas e consequências...

...Não posso procurar kiwis no meio de pêssegos. Certos nomes já podem ser eliminados da minha salada de frutas. Cansei de ser consequência, quero ser causa. E se eu não puder ser causa, que não percam tempo me procurando...

Abstração

Sou abstrata demais
E por bastar-me é que existo
Pois se não fosse o que sou
Jamais seria eu o que restou

E de ser incompleta
Visto-me a cada dia
e quando me olho de perto
Vejo, e me assombro
com a regalia de puramente ser
que só a mim permito

Sou própria de mim
e assim me pertenço
se sou prosa ou se sou verso,
suficientemente sou,
e assim floresço.

E a mim me encontro
e de mim me perco
quando ao que não pertence a mim
cedo.

E na abstração, que é
marca minha,
exerço minhas vontades

Pra calar o que de mim via
e a saudade que de mim me invade.
(Dani Zamorano)