29 de mai. de 2009

Desobstrução

às vezes há necessidade de se desobstruir.
abrir os poros.
assassinar o que é ruim (em termos internos, claro).
rever o que é bom, e se permitido, reviver.
desobstruir o riso, o suspiro e o brilho dos olhos.

E ele deve ter pensando sobre ela: "E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ela visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ela soubesse que eu era eu, e eu era."

Como eu quero que seja: "Quando partiu, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida. Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás. Não olhava, pois, e, pois não ficava. Completo, partiu."

Falo tanto de desobstrução, mas está difícil desobstruir. Me esforço mas a história do sonho ainda roça nos meus calcanhares. Não por sentimento, mas por uma dependência desesperada que sei bem do que se trata. Há pensamentos soltos cá dentro, mistura de emoções remanescentes e novas emoções. Pairam muitas dúvidas e poucas certezas. Pairam poucas dúvidas e muitas certezas. Ouço Beirut, escrevo num processo que fica pouco a pouco selvagem no sentido literário e emocional. Morro de medo ainda. Mas sei que sei perder. Ao menos sabia. Me julgo forte, mas cansada. Me julgo cansada, mas forte. Não me julgo nada. Acho que acabei e não sei. Falta só bebida. Lembro agora que sonhei com armas de fogo. Minha mãe estava no sonho e pivetes tentavam me pegar, eu tirava de alguns deles algumas armas e munição, e tinha certeza que atiraria pra me defender. Minha mãe aparecia, pegava trêmula uma pistola, com uma munição incerta e conseguia atirar. Saíamos do cúbiculo pra fugir, tomávamos coragem e atirávamos. Sei que é típico dos peseudo-boêmios solicitar bebida pra escrever. Sou uma pseudo-boemia. Eu via sangue voar, tinha no final uma estação de trem. Eu e ela atirávamos, ela mais do que eu, eu tinha dificuldade em atirar, e me faltava coragem. Confesso que sou uma pseudo-várias-coisas, me confesso pra mim. Os convites não chegam. A psicologia explica o sonho, aliás nem precisa chamar ela aqui, eu mesma me explico. Eu tenho me machucado. Posso começar a me salvar. Beirut é bom. Tenho uma casa agora. Amo muito um homem. As unhas ficaram tão sujas! Tento desobstruir. Como sempre há excesso de informações e sentimentos em mim. Talvez porque eu seja vazia e sobre espaço. Talvez eu não seja vazia e falte espaço. Talvez eu não seja. Não entendo o sentido das coisas. Do sentido não entendo as coisas. As palavras giram aqui em volta. O medo corre atrás delas. Tento desobstruir, e agora entendo que mais que o medo é o amor que roça meus calcanhares. Existem reticências em volta, dentro, acima e abaixo de mim. Há uma pistola e balas, eu engatilho mas tenho medo de atirar. Sou toda amor e reticências. Será que sou?

"Acho que sou bastante forte para sair de todas as situações em que entrei, embora tenha sido suficientemente fraco para entrar."

"Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis."

*frases Caio Fernando Abreu

24 de mai. de 2009

Da abdicação

AR/TE FAZ RESPIRAR?
ACHO QUE NÃO MAIS.

Pairando do esgotamento mental a ausência de flúidos criativos e artísticos para o momento. Auto-consciência de incapacidade teatral para muitos fins. Desistência próxima, previsível e desejável.

Cego (Arnaldo Antunes)

Estou cego a todas as músicas,
Não ouvi mais o cantar da musa.
A dúvida cobriu a minha vida
Como o peito que me cobre a blusa.
Já a mim nenhuma cena soa
Nem o céu se me desabotoa.
A dúvida cobriu a minha vida
Como a língua cobre de saliva
Cada dente que sai da gengiva.
A dúvida cobriu a minha vida
Como o sangue cobre a carne crua,
Como a pele cobre a carne viva,
Como a roupa cobre a pele nua.
Estou cego a todas as músicas.
E se eu canto é como um som que sua.

23 de mai. de 2009

Do sentido

Absolutamente N
I
I
L
I
S
T
A


17 de mai. de 2009

Do não esquecimento


É Preciso Não Esquecer Nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco,
pois o resto não nos pertence.

(Cecília Meireles)

8 de mai. de 2009

Das reclamações


Tenho sentido frio. Muito frio. E tenho perdido a paciência por pouco. Tenho dormido mal.
Estou cansada, tanto. A ponto de não ter prazer em quase nada.

Baby! I'm so alone Vamos pra Babylon! Viver a pão-de-ló E möet chandon Vamos pra Babylon! Vamos pra Babylon!... Gozar! Sem se preocupar com amanhã Vamos pra Babylon Baby! Baby! Babylon!... Comprar o que houver Au revoir ralé Finesse s'il vous plait Mon dieu je t'aime glamour Manhattan by night Passear de iate Nos mares do pacífico sul... Baby! I'm alive like A Rolling Stone Vamos pra Babylon Vida é um souvenir Made in Hong Kong Vamos pra Babylon! Vamos pra Babylon!... Vem ser feliz Ao lado deste bon vivant Vamos pra Babylon Baby! Baby! Babylon!... De tudo provar Champanhe, caviar Scotch, escargot, rayban Bye, bye miserê Kaya now to me O céu seja aqui Minha religião é o prazer... Não tenho dinheiro Pra pagar a minha yoga Não tenho dinheiro Pra bancar a minha droga Eu não tenho renda Pra descolar a merenda Cansei de ser duro Vou botar minh'alma à venda... Eu não tenho grana Pra sair com o meu broto Eu não compro roupa Por isso que eu ando roto Nada vem de graça Nem o pão, nem a cachaça Quero ser o caçador Ando cansado de ser caça...




4 de mai. de 2009

Quem deixou a segurança do seu mundo por amor...



Ele, que em tão pouco tempo virou uma das razões do meu viver.
Ele, que veio me confidenciar que o verdadeiro amor existe.
Que tem olhos caídos que quando me olham me fazem estremecer inteira.
Olhos que franzem com o nariz quando ele ri.
Ele, que sempre diz que tudo vai dar certo quando o caos se aproxima e se faz de seguro pra me deixar segura.
Que me dá flores pelo menos a cada duas semanas.
Ele, que com pequenas ou grandes ações diz de muitos modos: tô do seu lado.
Tem um coração bonito estampado na testa e nos olhos.
E tem um brinde pequeno de olhos verdes que eu adoro.
Ele, o único que me ilumina.
Ele, que adoro contemplar quando está no computador ou falando no telefone.
Que cisma em competir nas artes marciais, e me deixa quase infartando de preocupação.
Ele, que deu outro sentido às noites, quando me fez sentir verdadeiramente mulher,
outro sentido à vida quando me fez acreditar que o amor era possível.
Mas o amor inteiro, feliz, satisfeito.
Não o amor que tapa buracos tentando justificar:
"ahhhhhh ele não me satisfaz aqui, mas tem aquela outra coisa que faz com que valha a pena"
Não.
É um amor real, completo, inteiro.
E por mais que nos chamem de loucos, sabemos que a realidade real é a da felicidade.
Poderia ficar aqui discursando sobre o que ele é pra mim, e falar dos defeitos toleráveis, mas tem coisas que não se define, se sente.
Nunca pensei, mas esse amor mágico, de filmes é possível.
Eu também fazia parte do time dos descrentes da felicidade e do amor,
até que ele apareceu.
E agora só conto os dias pra oficialmente tê-lo de vez na minha vida.