4 de jun. de 2009

Do cachecol vermelho

Ontem passei o dia todo querendo escrever esse post. Ontem era poderosa, muito poderosa. Uma segunda pele preta que não protegeu em nada do frio, botas com fivela, vestido preto, cachecol vermelho e óculos escuros. Me sentia uma vilã ou espiã saída de uma novela brasileira do sbt, só faltava um carro. Ontem podia tudo. Circulei pelo rio pra cima e pra baixo, de trem, metrô e ônibus. Era poderosa mesmo sem carro. Eu podia tudo, via que tinha força e beleza. O cachecol vermelho me deu o poder. Encabecei uma reunião e um projeto, por mais absurdo que pareça. Li um livro bom em todos os trajetos, me senti uma Amelie Poulain nos metrôs da Europa no trem Central-Bangu. Bon soir, bon soir...

"eu seguro a minha língua como um garanhão, pela rédea, para que ele não se jogue sobre a égua, porque se eu largasse a rédea, se eu afrouxasse ligeiramente a pressão de meus dedos e a tração de meus braços, as minhas palavras a mim mesmo desmontariam e se arremessariam para o horizonte com a violência de um cavalo árabe que fareja o deserto e que nada mais pode frear."
(Bernard-Marie Koltès)